Já são 15 anos acompanhando o Eurovision Song Contest. Desde 2003, quando vi Sertab Erener levar a Turquia à vitória, nunca mais deixei de ver com entusiasmo o principal evento musical da Europa. Um dos maiores do mundo.
É preciso tempo para entender o festival. Nem sempre vence a melhor música. Ou a melhor voz. Nem a melhor apresentação. É a união das três coisas, mais a simbiose com o público, que conquistam o ESC. Não existe fórmula exata: da dançante My Number One, da étnica Molitva, do Hard Rock Hallelujah… já vi de tudo com o troféu na mão.
Concordei com muitas, detestei outros resultados. Ano passado, a minha torcida era de Francesco Gabbani e sua Occidentali’s Karma. Não deu! Mas não havia como não se deixar conquistar pela poesia de Amar Pelos Dois, interpretada por Salvador Sobral.
Foi histórico: pela primeira vez, o país lusitano ficou com a vitória. A música atravessou fronteiras e chegou até a abertura de novela global aqui no Brasil. O drama do rapaz também. Personagem introvertido, ele precisou de um transplante de coração. Já participou da competição em condições de saúde precária.
Sua atitude blasé diante da conquista já tinha deixado muita gente com a pulga atrás da orelha. Mal comemorou a façanha. A doença, talvez. A personalidade, talvez. Foram muitos senãos para justificar sua arte sobre o palco com suas atitudes fora dele.
Não há mais desculpa. Salvador Sobral é grosseiro. É desnecessário para o festival. Faria um enorme favor ao eurofã se desistisse da participação na finalíssima de sábado, quando cantará com o brasileiro Caetano Veloso. Ele já disse que é avesso à fama. Então, por que participar de um evento visto anualmente por 200 milhões de pessoas? Por que, principalmente, depreciar de maneira estúpida a edição seguinte àquela que o consagrou, realizada justamente em seu país?
Em entrevista a um site português, o artista faltou com respeito a todo o evento, em especial à colega Netta, uma das favoritas da temporada, com Toy. A israelense conta de maneira descontraída como superou o bullying em uma apresentação com bom humor e leveza.
Sobre o Eurovision 2018, Sobral disse:
“Apenas conheço a canção portuguesa e a de Israel, porque o YouTube me obrigou a vê-la. Coisas da tecnologia. De repente, o YouTube achou que eu iria gostar da canção de Israel, e então abri aquilo e saiu-me de lá uma música horrível. Eu pensei: YouTube, muito obrigado, mas não é por aqui. Felizmente, este ano, não tenho de ouvir nada. Não creio que tenha mudado alguma coisa. No ano passado, as pessoas diziam: “Agora que ganhaste, isto vai mudar!” Não creio. Talvez no futuro”.
Um aviso ao gajo: música boa nem sempre é aquela que vem acompanhada de uma dose de Rivotril em sua melodia. Reconheço seu talento, mas devo dizer que és um sábio de boca fechada se não estás cantando.
Non Mi Avete Fatto Niente, de Ermal Meta e Fabrizio Moro, os representantes da Itália, é uma obra-prima tão relevante quanto a sua. Ou Merci, de Madame Monsieur. Ou a lindíssima When We’re Old, da lituana Ieva Zasimauskaite. Parou para ouvir o vozeirão do Eugent Bushpepa, da Albânia, em Mall?
Ora, pois, Sobral, o mundo não gira ao redor do teu umbigo. Não és o único no mundo a fazer boa música. Aliás, te conto uma coisa: muita gente não concordou com a sua vitória ano passado, se incomodou com a apresentação contorcida e arrogante. Nem por isso, tiraram-lhe o mérito.
Abra seu mundo musical e descobrirá que bom não é apenas o que a gente gosta. Eu não gosto de você. Da tua prepotência. Outra vez: reconheço o teu talento. E, é claro, o da sua irmã Luisa, a grande responsável pelo teu sucesso.
Quer fazer um favor a todos nós? Desista da final. Não se junte a essa gentalha que faz música pop, comercial e divertida. Fique no seu casulo de bom gosto. Deixe-nos desfrutar da farofa da Moldávia, vibrar com os favoritos Eleni Foureira e Alexander Rybak, rebolar com Hvala Ne, e exaltar a coragem da Netta.
Quer saber? Sua ausência não será notada. O que é relevante, aqui, é que o Eurovision é maior do que você. Mais respeito.